Carta de Adeus
Prometi a mim mesma que nunca
mais escreveria sobre você e para você, mas as palavras quando escritas ficam
num tempo para além das palavras ditas, o que pretendo que aconteça com essa
carta, e porque essa é desde sempre a minha melhor via de expressar meus
sentimentos.
Eu sempre soube que seria difícil
colocar um ponto final entre nós. E por isso evitava, por essa razão evitei por
tanto tempo. Nunca fui boa em dizer adeus a nada nem a ninguém, e com você,
certamente foi, e é a maior das dificuldades em toda a minha vida! Eu sempre amei você, e amei desde o dia em
que o conheci, embora tenha reconhecido depois e fiz você saber num tempo a
posteriori também. Por isso é que cedo em nossa vida foi sempre tarde demais. É
como me sinto, e é como interpreto a nossa história hoje. Você sempre foi o
número 1. Sempre foi a minha escolha preferida dentre todas as outras, embora
eu saiba, como você também soube, que nunca deixei claro, e é por isso que digo
novamente: o cedo, tornou-se tarde
demais. Foi cedo demais em que nos apaixonamos. Cedo demais em que fizemos
nossas promessas do "para sempre" e toda a bagagem que vem junto como
planos de uma vida a dois. Cedo demais em que nos separamos. E ao mesmo tempo em que tudo isso acontecida, tarde demais.
Por tanto tempo eu atribuí a
palavra amor ao seu nome aonde quer que eu ia, ou o que quer que eu fizesse. E
eu inventei você. Trouxe aquela primeira versão quando o conheci para o
presente e a mantive intacta ano após ano. A minha memória te recriou, e a
fantasia em fazer você perdurar em mim, a ocupar a mesma posição que ocupava
manteve-se também irretocável. Com o passar do tempo e das notícias que sempre
chegavam, eu soube sem saber que sabia, porém, que você não era mais o mesmo,
nem poderia ser, mas eu não queria ver, eu não desejava dizer adeus, como eu
também sentia (mais uma fantasia?) que você não.
A vida muda, e nós mudamos com
ela. Inevitável! Eu não sou aquela de quando nos conhecemos, e sei que você
também não. Nossas escolhas fazem de nós aonde estamos hoje. Eu, que sempre
estive aqui, eu que sempre esperei um sinal definitivo que o trouxesse de
volta, digo-lhe hoje, não mais! Hoje eu compreendo que sou responsável por
mantê-lo presente e tão vivo aqui, mesmo diante de toda uma realidade em que
sempre provou-me fazer o contrário. Eu te recriei, te enfeitei com os meus ideais de amor
romântico construídos durante toda a minha vida. E por isso foi e é tão
doloroso dizer adeus! Essa posição em que mantive-me durante anos deveria cair,
um dia!
Não posso mudar o passado, nem tampouco
adivinhar o que acontecerá no futuro, mas posso fazer alguma coisa com o hoje,
e hoje, eu digo-lhe adeus. Sei bem o quanto eu disse essa palavra, sei o quanto
eu a pronunciei, mas também sei que diante de todos os fatos que dolorosamente
a mim foram apresentados e que relutei ver, diante daquilo que se anuncia hoje, diante do óbvio
que é a verdade mais difícil de enxergar, eu digo-lhe decididamente adeus! Adeus
ao fantasma que me consumiu durante anos. Adeus as promessas, minhas, suas,
nossas. Adeus a tudo o que aconteceu
entre nós dois, e também a tudo o que não aconteceu. Adeus as expectativas, as
lágrimas, e a tudo o que vem de você. Adeus porque é preciso. Adeus porque a
vida precisa continuar. Adeus a essa parte de você que viveu em mim que eu
tanto amei e por isso sempre foi tão difícil colocar-lhe um ponto final. Adeus a tudo o que eu achei que sabia sobre
você e também de mim. Adeus a garota que te conheceu. Adeus ao garoto que eu conheci. Adeus ao que
inventei de você. Adeus a nós dois que nem existe mais.
Olá para a mulher que mora em mim hoje. Olá para novas ilusões, novos sofrimentos, e novos desejos. Olá para o que não sei sobre mim, para o inesperado, para uma vida nova que todos os dias descortina-se à minha frente. Olá para o desconhecido e todas as outras formas de seguir em frente, sem você!
Simony Thomazini
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