"Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê?" Paulo Leminski
Como essa é a minha primeira postagem, gostaria de contar brevemente como comecei a escrever a vocês. Escrevo desde os 16 anos, e o "motivo" que me levou a este destino foi uma grande decepção amorosa vivenciada nessa época. Escrevia poesias e tinha um pequeno diário que era uma espécie de fuga, e uma maneira encontrada por mim de não sangrar publicamente, bem como uma tentativa de explorar esse novo mundo experimentado por mim, ou seja, o amor, ou aquilo que eu achava que poderia chamar de amor. Como escolhi esse tema para iniciar o blog, e sendo ele extenso e escrito por vários autores, optei por um trecho de uma de minhas escritoras favoritas, Anaïs Nin, para nos contar um pouco sobre o por que as pessoas escrevem.
"Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar a cada vez que a vida me destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte.
Só o artista sabe que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal, partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um legado, como um dom destinado a eles.
Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento de vida. Para atrair, encantar e consolar. Escrevemos para acalentar nossos amantes. Para degustar em dobro a vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos, como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para podermos transcender nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem ao labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo, meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades – é a isto que eu chamo de respirar."
Anaïs Nin, no livro "Em busca de um homem sensível" (1987, p.18-19.)
*Imagem retirada da página do Facebook: "Letras in.verso e re.verso"
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